06 August 2010

' é preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
é preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar, a trevo machucado, as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
é preciso a saudade para eu sentir como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato...
e eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.  

(mário quintana)